Após cinco meses do primeiro caso de covid-19 no Brasil, o país se encontra com mais de 1,7 milhão de infectados e cerca de 60 mil mortes. O Estado de São Paulo já atingiu cerca de 480 mil casos e 20 mil óbitos, enquanto taxas de ocupação de UTIs são de 63,5% na Grande São Paulo e 64,5% no Estado.
Uma pesquisa comandada por cientistas da USP e Unifesp contribuiu com dados cruciais sobre o mapeamento do percentual de infectados.
Sendo assim, o testes sorológicos foram feitos em 1.183 pessoas maiores de 18 anos, em todas as regiões do município de São Paulo, entre os dias 15 e 24 de junho.
Percentual maior em bairros pobres
Os resultados divulgados no começo do mês de julho apresentaram uma situação já esperada sobre a desigualdade social no município. Ou seja, o percentual de moradores de bairros pobres que apresentaram anticorpos para o novo coronavírus atinge o número 2,5 vezes maior em comparação aos bairros ricos. Portanto, foi de 16% contra 6,5%.
A desigualdade social
“A epidemia de SARS-CoV-2 no município de São Paulo pode ser entendida como sendo duas epidemias com dinâmicas de propagação distintas [uma nos bairros ricos e outra, nos pobres], refletindo a desigualdade social presente no município”, diz a conclusão do estudo. Via: poder360
A questão da desigualdade social relacionada à contaminação já era clara. Uma vez que inúmeras matérias saem na mídia diariamente relatando mortes e situações em hospitais. O próprio cenário da chegada da doença em nosso país já representa isso, com o patrão contaminando o empregado pós-viagem. Os dados de agora somente mostram a magnitude dessa diferença, com a ideia mais clara da progressão diferencial da epidemia em bairros.
De acordo com a pesquisa, até mesmo o nível educacional refletiu no número de contaminação: 22,9% das pessoas que não completaram o ensino fundamental apresentaram anticorpos. Enquanto aqueles que terminaram o ensino superior alcançaram o percentual de 5,1% — uma diferença de 4,5 vezes menos. Casas com maior número de moradores também tiveram maior contato com a doença, um total de 8,1% contra 15,8%.
A taxa de infectados negros
O levantamento também apontou que a soroprevalência atinge 2,5 vezes mais em pessoas adultas pretas do que brancas. Total de 19,7% contra 7,9%. Aliás, questões sociais e históricas ajudam a explicar a presença dos negros como grupo de risco da covid-19.
Um estudo do IBGE de 2019 mostrou que a população negra tem os piores indicadores de estrutura econômica. Além disso, os índices também apontam resultados ruins no mercado de trabalho, padrão de vida, distribuição de renda e educação.
Pessoas em situações de fragilidade financeira se encontram em maior contato com a doença. Uma vez que o isolamento social não foi uma opção para classe de trabalhadores, que não poderiam parar suas atividades diárias pela própria sobrevivência.
Famílias de classes baixas normalmente possuem estruturas precárias de moradia, com muitos membros vivendo na mesma casa, contribuindo com a maior disseminação do vírus.
Aliás, eles não tiveram poder de escolha diante o isolamento social, ou não tiveram noção clara da proporção do vírus. O colapso do sistema acerta em cheio os mais vulneráveis.