A violência ocorre em casa, nas ruas e também no ambiente de trabalho
Em 2018, um levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública apontou que, por hora, 536 mulheres são agredidas no país. Ademais, 177 são vítimas de espancamento.
Agora, no final de 2020, uma nova pesquisa feita pelo Instituto Patrícia Galvão, mostrou que mulheres sofrem mais assédio moral e sexual no ambiente de trabalho do que os homens — 76% das mulheres já foram vítimas de violência no ambiente de trabalho.
Além disso, a pesquisa ainda mostra que, quatro em cada dez foram alvo de xingamentos, insinuações sexuais ou receberam convites de colegas homens para sair. Ademais, 40% das mulheres dizem que já foram xingadas ou ouviram gritos em ambiente de trabalho contra 13% dos homens.
A pesquisa foi feita online com homens e mulheres de todo o Brasil, de 18 anos ou mais. Foram 1.500 entrevistas realizadas de 7 a 20 de outubro de 2020. A margem de erro é de 2,9 pontos percentuais para mais ou para menos.
A violência ainda não é algo reconhecido
De acordo com a pesquisa, muitas vezes, o constrangimento é visto como “bobagem” ou “brincadeira”. Naturalizando assim situações de violência, constrangimento e assédio vividas pelas brasileiras no trabalho. Somente 36% das trabalhadoras dizem já ter sofrido preconceito ou abuso por serem mulheres.
Porém, em perguntas diretas, apresentando as situações, 76% reconheceram já ter passado por um ou mais episódios de violência e assédio no trabalho.
Os sentimentos em relação a isso são diversos: tristeza, ofensa, humilhação e raiva. Aliás, apenas 16% disseram não ter se importado.
A situação ainda é crítica quando o assédio vem de um chefe direto ou de alguém com cargo profissional superior. Pois, a vítima tem que lidar, além da vergonha e do constrangimento, com o medo de uma demissão.
“Um dia, estava no meu trabalho, um colega pegou na minha bunda e me chamou para sair. Eu fiquei muito nervosa porque ele era meu chefe”, afirma uma entrevistada.
Existe assédio sexual sem contato físico?
Para alguns, pode ser uma pergunta com uma resposta simples. Entretanto, a banalização do assunto ocasiona em inúmeras vítimas que não encontram soluções ou punições aos seus agressores.
Em apenas 28% dos casos relatados, a vítima soube que o agressor sofreu alguma consequência. Em 39%, a vítima não soube o que houve com o agressor e em 36% nada aconteceu.
“Assédio é qualquer conduta de natureza sexual que a outra pessoa, o destinatário, não queira, venha a repelir essa conduta, e mesmo assim ela permanece, tirando então o direito a um princípio fundamental, que é o da liberdade sexual”, explica a advogada Vanessa Tadeu de Paiva, especialista em violência doméstica, ao portal Universa.
“A chave está no consentimento. A pessoa precisa ter a chance de dizer não e ter seu ‘não respeitado’. Então, quando alguém vem com uma fala de conotação sexual, um jeito de falar ou de olhar que seja intimidador, você demonstra que aquilo não te agrada, que você não consente, e a pessoa insiste, é assédio”
A violência doméstica
A pesquisa também adentra na questão da violência doméstica. Para 7 em cada 10 entrevistados, as vítimas de violência doméstica têm um desempenho pior no trabalho. Além disso, mais da metade dos entrevistados desconfia de que uma colega seja vítima de algum tipo de violência.
Em 2019, o Brasil teve 3.739 homicídios dolosos de mulheres. Mulheres essas que, em maior parte, sofriam violência doméstica antes do ocorrido, sendo em média uma morte a cada 7 horas (Via: G1). Vítimas que viveram com medo de seus agressores e não tiveram voz, e assim se tornaram mais um número.
Dados coletados pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH), apontaram que o Brasil ocupa o 5º lugar no ranking mundial de feminicídio.
|Leia mais sobre o assunto: Entendendo a Violência Doméstica
Apesar disso, apenas 19% das empresas combatem à violência contra a mulher no Brasil — segundo uma outra pesquisa realizada pelo Instituto Maria da Penha, o Instituto Vasselo Goldoni e o Talenses Group. Mesmo que 68% das empresas consultadas terem considerado necessário dedicar tempo à abordagem da violência doméstica sofrida por funcionárias. Aliás, somente 9% têm um canal de ouvidoria para apoio à mulher.
A violência contra as mulheres é um problema grave que deve ser combatido por toda a sociedade. Em média, a cada 7 horas, uma mulher é morta — essas mulheres, em sua maior parte, sofriam violência doméstica antes do ocorrido. Infelizmente, foram vítimas que viveram com medo de seus agressores e não tiveram voz, e assim se tornaram parte desta estatística. Muitas mulheres não fazem a denúncia por medo de retaliação ou impunidade: 22,1% delas recorrem à polícia, enquanto 20,8% não registram queixa. CLIQUE AQUI É LEIA A CARTILHA SOBRE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA